Publicado em: 13/06/2018 14:28:49
Órgão espera aprovar até julho reformulação da carreira, que tem alta taxa de evasão; integração de disciplinas, mais foco em atividades práticas e ênfase em inovação são outros objetivos da mudança, que valerá para 4 mil graduações da área no País
O Conselho Nacional de Educação (CNE) vai mudar as diretrizes curriculares das graduações de Engenharia do País, com o objetivo de tornar os cursos mais atrativos. A proposta é que a carreira - em que metade dos ingressantes abandona a faculdade antes de se formar - tenha maior número de atividades práticas, organização mais flexível, interdisciplinar e focada em inovação.
A avaliação é de que a organização tradicional, com os dois primeiros anos dos cursos focados só no ciclo básico (com disciplinas comuns a todas as Engenharias, como Cálculo e Física), desmotiva o aluno. A área tem evasão duas vezes maior do que a média dos outros cursos (22%). Graduações mais tradicionais também têm taxas de desistência bem menores, como Direito (17%), Medicina (8%) e as Licenciaturas (19%).
A última revisão nas diretrizes, que servem como parâmetro para os currículos dos cursos, foi feita há 16 anos. A resolução atual prevê, por exemplo, que pelo menos 30% da carga horária das Engenharias seja voltada para o núcleo de conteúdos básicos e fixa 15% de carga horária mínima para os conteúdos profissionalizantes.
A nova proposta não estabelece carga horária mínima para cada conteúdo a ser trabalhado, mas orienta que devem ser implementadas `desde o início do curso` atividades que integrem a parte teórica à prática, projetos multidisciplinares, com ênfase no trabalho individual e em grupo e o uso de metodologias de aprendizagem ativa.
Em discussão há mais de um ano, a previsão é de que o novo marco regulatório seja aprovado em julho. As novas diretrizes serão válidas para todos os cursos de Engenharia - são mais de 4 mil, sendo 70,5% na rede privada. Após aprovação pelo CNE, elas serão encaminhadas para homologação do Ministério da Educação. As instituições de ensino terão, depois desse processo, um ano para adequar seus currículos.
`A atuação na área de Engenharia não admite mais uma formação apenas técnica. A sociedade e os problemas são interdisciplinares e precisamos formar pessoas com habilidades para responder a essas questões`, diz Luiz Roberto Curi, que preside a comissão do CNE que estuda as mudanças. A ideia é de que os cursos se tornem mais `dinâmicos` e que o aluno tenha acesso a conhecimentos de outras áreas futuramente úteis no mercado, como design, mercado financeiro e saúde.
A proposta foi elaborada em conjunto com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Associação Brasileira de Educação em Engenharia (Abenge).
`Os cursos estão defasados e não respondem nem aos anseios dos jovens nem à demanda do mercado. Temos uma formação muito técnica, fragmentada. O que precisamos na Engenharia hoje é um profissional com habilidades, que saiba sempre aprender, refletir e encontrar soluções para os problemas`, diz Vanderli Oliveira, presidente da Abenge.
Carga horária
Se aprovada, a proposta também abrirá a possibilidade para que os cursos tenham menor duração. Atualmente, as diretrizes estabelecem que todas as Engenharias tenham carga horária mínima de 3,6 mil horas, ou seja, cinco anos de graduação. A nova proposta coloca essa mesma carga como `referência`.
`Abre uma brecha para que os cursos, se bem elaborados e atendendo a todas as outras orientações, possam ter quatro anos de duração. Isso já ocorre em muitos países da Europa e nos Estados Unidos, nas instituições mais renomadas`, afirma Oliveira.
Após mudanças, Poli-USP vê alunos mais motivados
Cinco anos após mudar o currículo de suas graduações para que se tornassem mais flexíveis, a Comissão de Graduação da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) - uma das mais tradicionais de Engenharia do País - avalia que a motivação dos alunos aumentou. A alteração permitiu que o estudante possa cursar matérias de outras áreas e até de fora da Engenharia.
A reforma também incluiu já no 1.º ano disciplinas introdutórias à área específica de formação. `Os alunos ficam mais próximos do que os trouxe à Engenharia`, conta Fabio Cozman, presidente da comissão.
Ele diz que a flexibilização e a possibilidade do aluno personalizar sua grade curricular também trazem desafios importantes. `Ele (o aluno) tem mais obrigações porque decide quais disciplinar vai fazer. O aluno é menos conduzido na mão pelo sistema, o que é importante para desenvolver habilidades que serão utilizadas na profissão.`
Rafael Lima, de 22 anos, está no 3.º ano de Engenharia Civil da Poli e diz que o contato com as disciplinas introdutórias o fizeram ter certeza da escolha. `Temos muitas visitas técnicas e isso me motiva a continuar estudando. Já visitei o Porto de Santos, obras do Metrô e de duplicação de rodovias.` A chance de fazer disciplinas em outras áreas, diz, ajuda a `descansar` do conteúdo exclusivo do seu curso. `Fiz uma disciplina de análise de textos e foi ótimo`.
As mudanças também priorizaram novas metodologias de aprendizagem, com o uso de recursos digitais.
Fonte: ISABELA PALHARES - UOL EDUCAÇÃO 13/06/2018 SÃO PAULO, SP